Por Filipe Venturini Signorelli
Quando falamos sobre ética na saúde, é imprescindível ir além do discurso filosófico. Ética precisa ser prática concreta, mensurável. E é exatamente esse caminho que o Instituto Ética Saúde tem trilhado nos últimos 10 anos, transformando princípios em ações reais, impactos e resultados visíveis.
Desde sua fundação, o Instituto tem sido um catalisador de mudanças profundas no setor da saúde, no Brasil. Enfrentamos um cenário desigual, com batalhas diárias contra estruturas enraizadas de má conduta. No início, éramos poucos, carregando nas mãos um ideal quase utópico. Hoje, temos conquistas concretas que validam cada passo dado.
Materializar a ética é nosso compromisso. Isso significa atuar em várias frentes: na construção legislativa, na autorregulação, no fomento à transparência, no apoio a programas de compliance e, principalmente, na formação ética dos profissionais da saúde.
Em parceria com universidades, estamos mapeando a legislação e regulação do setor e levantando dados que mostram a evolução da corrupção, nos últimos cinco anos. Isso nos permite construir indicadores sólidos para entender o cenário e agir com inteligência.
Mas nossa atuação vai além do diagnóstico. Recentemente, o Instituto, com o apoio de todas as entidades do seu Conselho Consultivo, apresentou ao Ministério da Educação uma proposta para alterar as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos da área da saúde. O objetivo é inserir a ética de forma transversal, desde a formação universitária, antes que o profissional entre no mercado e se depare com as tentações e distorções que conhecemos bem. Acreditamos que formar um profissional ético na raiz — no momento da transição entre o aprendizado pedagógico e a prática adulta — é a chave para transformar o setor. Assim, evitamos que escolhas de especialização sejam guiadas por oportunidades ilícitas e reforçamos a centralidade do paciente e da vida humana no exercício da medicina.
Essa é uma verdadeira revolução silenciosa. Estamos falando de ética em sua forma mais concreta: prevenir ao invés de punir, transformar ao invés de maquiar, educar ao invés de condenar. A ética não está apenas no código, no protocolo, no manual. Ela está na conduta cotidiana, nas pequenas e grandes decisões que moldam o futuro da saúde no País. Está na CONFIANÇA!
Ao longo desses 10 anos, conseguimos avanços significativos, tais como:
· Aumento expressivo dos programas de compliance nas empresas;
· Maior visibilidade no combate ao pagamento de propinas;
· Redução de práticas de pagamentos como o desconto financeiro;
· Fortalecimento do marco de consenso ético e regulatório do setor;
· Crescimento da autorregulação e do engajamento das empresas;
· Ajustes nas legislações e regulações do Estado.
É raro ver empresas que se unem para combater a corrupção de forma voluntária. Aqui, isso aconteceu. E continua acontecendo. A integridade passou a ser um ativo estratégico. E a transparência um valor incontornável.
Independentemente de qual sigla e/ou ideologia partidária esteja comandando o governo do nosso País ou da conjuntura política, o compromisso com a ética permanece. Porque o que está em jogo é a saúde das pessoas. Lidamos com vidas. E é por isso que reafirmamos, com orgulho, que o Instituto Ética Saúde vem fazendo história. A mudança é real. A transformação está em curso. E ela só é possível porque empresas, profissionais, entidades e a sociedade civil decidiram, juntos, fazer o que é certo.
Essa é a ética que se constrói. E ela veio para ficar.
Filipe Venturini Signorelli é diretor Executivo do Instituto Ética Saúde
* A opinião manifestada é de responsabilidade dos autores e não é, necessariamente, a opinião do IES